domingo, 6 de março de 2011

Mundo | Gaddafi diz aceitar missão da ONU ou da União Africana na Líbia

"Vamos permitir que essa comissão veja o que se passa no terreno, sem nenhum obstáculo", disse o ditador

Agências de Notícias

Foto: Hussein Malla/AP
O ditador da Líbia, Muammar Gaddafi, declarou, em uma entrevista publicada na edição de domingo do jornal francês "Le Journal du Dimanche", que aceitaria o envio de uma comissão investigadora da ONU (Organização das Nações Unidas) ou da União Africana para avaliar a situação de seu país, palco há 19 dias de revoltas que pedem o fim de seu regime.

"Para começar, quero que uma equipe de investigadores das Nações Unidas ou da União Africana venha aqui na Líbia", afirmou o mandatário, há 42 anos no poder. "Vamos permitir que essa comissão veja o que se passa no terreno, sem nenhum obstáculo."

Gaddafi realiza uma violenta repressão contra opositores antirregime --a mais ferrenha entre os países que têm sido atingidos pela onda de protestos no mundo árabe.

Na última quinta-feira, o promotor-geral do Tribunal Penal Internacional, com sede em Haia, Luis Moreno Ocampo, afirmou que irá investigar o ditador e seu círculo mais próximo --incluindo alguns de seus filhos-- por possíveis crimes contra a humanidade que teriam sido cometidos no país.

Na opinião do líder líbio, o Conselho de Segurança da ONU --que aprovou, no último dia 26, sanções que incluem a proibição das viagens de Gaddafi e o congelamento de seus bens e condena a repressão-- "não tem competência em assuntos internos de um país".

"Se quer intervir, que envie uma comissão investigadora, repito que isso eu apoio. Enquanto isso, sua resolução [que aplica as sanções] é nula e sem efeito aos meus olhos, ao menos até que uma comissão de investigação séria e independente venha verificar as coisas no terreno", afirmou.

Na entrevista ao jornal francês, Gaddafi voltou a dizer que está envolvido em uma luta contra o terrorismo e expressou consternação por não estar tendo apoio no exterior.

"Estou surpreso que ninguém entenda que isso é uma luta contra o terrorismo", disse. "Nossos serviços de segurança cooperam. Temos ajudado muito vocês nos últimos anos. Então, por que quando estamos lutando contra o terrorismo aqui na Líbia, ninguém nos ajuda de volta?"

A publicação da entrevista pelo jornal francês ocorre após um dia de intensos confrontos na Líbia, quando forças leais ao ditador lançaram uma violenta ofensiva contra a cidade de Zawiyah, localizada a apenas 50 quilômetros da capital, Trípoli, e controlada por rebeldes. Os ataques podem ter deixado mais de cem mortos.

Por outro lado, opositores, que já controlam o leste, consolidaram seu poder sobre o porto petrolífero de Ras Lanuf, e avançam agora rumo a Sirte, cidade natal de Gaddafi.

Os episódios de violência deste sábado deram novos sinais de que a disputa pelo controle do território líbio pode durar semanas ou até meses, aproximando cada vez mais de uma guerra civil. O governo luta para manter seu controle sobre Trípoli e áreas ao redor da capital, enquanto os rebeldes tentam levar sua ofensiva para o oeste.

A ofensiva deste sábado em Zawiya, uma cidade de cerca de 200 mil habitantes, começou com forças pró-Gaddafi usando morteiros e metralhadores em um ataque-surpresa ao amanhecer.

Testemunhas que falaram à agência de notícias Associated Press afirmaram que os morteiros danificaram prédios do governo e residências. O confronto gerou uma série de incêndios, criando uma densa nuvem preta de fumaça sobre a cidade.

Também há relatos de que atiradores estavam disparando contra qualquer pessoa que estivesse na rua, inclusive em varandas.

"Os tanques estão por todos os lados da cidade e disparam contra as casas. Vi passar sete diante da minha casa. Os tiros não param", afirmou um habitante da cidade à agência de notícias France Presse. "Rezem por nós", completou, antes da ligação ser cortada bruscamente.

O portal de oposição Al Manara informou que 40 tanques entraram em Zawiya e abriram fogo contra as residências.

Um médico local afirmou que as forças pró-Gaddafi perpetraram "um massacre". "É um verdadeiro massacre. A situação é catastrófica. Mataram muita gente. Mataram minha filha", declarou a fonte, antes de começar a chorar. "Não quero dizer mais nada", concluiu.

Relatos feitos por rebeldes indicam divergências no número de mortos, que poderia variar de sete até 200. Não há como confirmar independentemente estes números.

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