Investigação teve início após servidor do TCU confessar cooptação por criminosos interessados em um parecer técnico
Bruno Bocchini, da Agência Brasil
São Paulo – A Polícia Federal (PF) prendeu hoje (23) seis pessoas
acusadas de participar de organização criminosa que funcionava
infiltrada em órgãos federais para favorecer interesses privados na
tramitação de processos. As prisões, efetuadas em São Paulo, Santos e
Brasília, foram resultado da Operação Porto Seguro, desencadeada pela
manhã.
Foram presos em Brasília dois servidores públicos e um advogado, além
de dois advogados em Santos e um empresário na capital paulista. Ao
todo, 18 pessoas foram indiciadas.
De acordo com o superintendente regional da PF de São Paulo, Roberto
Troncon Filho, há comprovação da participação de servidores corrompidos
da Agência Nacional de Águas (ANA), Agência Nacional de Avião Civil
(Anac), Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antac),
Advocacia-Geral da União, Secretaria do Patrimônio da União (SPU), do
Tribunal de Contas da União (TCU) e Ministério da Educação e Cultura
(MEC).
Segundo a PF, a investigação começou após um servidor do TCU ter
procurado a polícia para confessar que havia sido cooptado por
criminosos interessados em comprar um parecer técnico. A recompensa
seria o pagamento de R$ 300 mil. Ele chegou a elaborar o documento e
receber a primeira parcela, de R$ 100 mil, mas se arrependeu
posteriormente.
Segundo o delegado, as investigações indicaram que não se tratava de um
caso isolado. “Acabou se constatando a existência de um grupo que
contava com dois de seus integrantes como servidores de agências
reguladoras. O grupo prestava serviços para empresários que tinham
interesse em ações como a agilização de processos e até mesmo a
elaboração de pareceres técnicos, sob medida, comprados para favorecer
interesses privados”, disse Troncon.
De acordo com o superintendente, dois servidores – um da ANA e outro da
Anac – tinham a função de contatar outros servidores de órgãos públicos
federais. Os demais membros da quadrilha se encarregavam do contato com
os grupos empresariais ou pessoas físicas interessadas em vantagens
ilegais na administração pública federal.
“[Os servidores envolvidos] eram de segundo e terceiro escalão, que
agiram por conta própria e sem o conhecimento de seus superiores ou dos
dirigentes desses órgãos. Os dirigentes máximos colaboraram prontamente
para o cumprimento dos mandados judiciais e o desenvolvimento da
investigação”, destacou o superintendente.
A conclusão da investigação, que contou com 180 policiais, deve ocorrer
em até 60 dias. Os investigados responderão, de acordo com suas ações,
pelos crimes de corrupção ativa, corrupção passiva, formação de
quadrilha, tráfico de influência, violação de sigilo funcional,
falsidade ideológica e falsificação de documento particular, cujas penas
podem ir de dois a 12 anos de prisão.
Todos os órgãos citados foram contatados pela reportagem. Até o
momento, apenas a ANA e a AGU se manifestaram em nota. "A Polícia
Federal realizou operação na manhã de hoje em instalações da Agência
Nacional de Águas. A operação, iniciada às 6h30 e concluída às 10h45,
restringiu-se ao interior do gabinete do diretor Paulo Rodrigues Vieira,
para coleta de documentos. Segundo mandado da Polícia Federal, a
operação não envolve a Agência Nacional de Águas", diz a nota.
Já a AGU disse que irá manter em sigilo o nome do servidor envolvido,
por orientação da Polícia Federal, e que o advogado-geral da União, Luís
Inácio Adams, já instruiu a corregedoria da instituição para que abra
procedimento interno de apuração. "A Advocacia-Geral da União informa
que a Polícia Federal esteve hoje na sede da AGU, em Brasília, para
cumprir mandado de busca e apreensão expedido pela Justiça Federal de
São Paulo. A coleta de documentos se restringiu à sala de um único
servidor”, diz trecho da nota.
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