Leda Balbino, IG São Paulo
Pelo ritmo dos acontecimentos, o ano de 2010 promete ser mais difícil que 2009 para o presidente dos EUA, Barack Obama.
No Natal, uma tentativa de ataque terrorista em um voo de Amsterdã a
Detroit deixou claro ao mundo o que a inteligência americana e
especialistas já sabiam: o terror não se resume ao Afeganistão.
Ele também vem de países como o Iêmen, onde o nigeriano Umar Farouk
Abdulmatallab conseguiu as substâncias para tentar explodir pelos ares
um avião da companhia Delta-Northwest.
Cinco dias depois, o agente duplo jordaniano Humam Khalil Abu-Mulal
al-Balawi conseguiu lançar no Afeganistão um ataque contra agentes da
CIA em uma base dos EUA, deixando sete mortos.
Os dois episódios expuseram a fragilidade dos serviços de
inteligência dos EUA e forçaram Obama a ordenar uma reforma de segurança
para provar à população que não é fraco nas questões de segurança
nacional, como já teimavam em dizer os republicanos durante a campanha.
"Imagine quantas críticas Obama teria recebido depois do incidente do
Natal se, em dezembro, não tivesse ordenado o envio de reforço militar
ao Afeganistão", afirmou ao iG o especialista em política externa
americana Steve Sestanovich, do Council on Foreign Relations. "Os
críticos teriam dito que os inimigos dos EUA em todo o mundo começam a
explorar a fraqueza do governo Obama", afirmou.
Mal Obama achou que a situação começava a se normalizar, um terremoto
no Haiti surpreendeu o mundo no dia 12. Assim como outros líderes, o
presidente dos EUA anunciou uma ajuda maciça às vítimas, com o envio de
dinheiro e mobilização de soldados. Nada de repetir os erros de seu
antecessor, George W. Bush (2001-2009), acusado de ser lento no desastre
do tsunami asiático, em 2004, e no furacão Katrina, em 2006.
Mas logo começaram as acusações de que o país, que a pedido do Haiti
passou a controlar o aeroporto, estava rejeitando a chegada de aviões
com ajuda internacional e queria suplantar o esforço militar liderado
pelo Brasil à frente da Missão de Paz da ONU. Picuinhas ou não, até um
diplomata francês usou termos característicos do venezuelano Hugo Chávez
e acusou os EUA de "ocupar o Haiti". Agora, um Exército de diplomatas
tenta pôr fim ao mal-estar. "A principal característica de Obama é uma
tentativa de restaurar o poder e a influência dos EUA parecendo mais
razoável e disposto a ouvir os outros", afirma Sestanovich.
Na terça-feira (12), mais uma má notícia. Os democratas perderam no
Senado sua maioria de 60 cadeiras - o que deve dificultar ainda mais a
tramitação da reforma da saúde, sua principal prioridade em política
doméstica, que já se arrasta desde abril do ano passado.
Se não bastasse, tudo isso ocorre em um ano eleitoral. Em novembro,
eleições renovarão a Câmara, um terço das 100 cadeiras do Senado e 39
dos 50 governos estaduais do país. Se os democratas perderem a maioria
do Congresso, Obama deve se ver impossibilitado de implementar o resto
de sua agenda até o fim de seu mandato, em 2012.
Para Sestanovich, a continuidade da crise econômica, com níveis de
desemprego menores, mais ainda na casa dos 10%, será o maior trunfo dos
republicanos neste ano. "Este é um ano eleitoral. E não há dúvidas de
que os oponentes políticos do presidente farão todos os esforços para
retratá-lo como indeciso e ineficaz", completou.
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