Para bispos do Nordeste, Papa afirmou que o episcopado deve emitir juízo moral sobre questões políticas
Fernando Cassaro e Eduardo Simões, Reuters
Foto: Abr
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira não ter se surpreendido com a declaração contrária à descriminalização do aborto dada pelo papa Bento 16 na véspera.
Em discurso para bispos do Nordeste, o pontífice também afirmou que o episcopado tem "o grave dever" de emitir juízo moral inclusive sobre questões políticas.
"Eu não vi nenhuma novidade na declaração do papa. Esse é o comportamento da Igreja Católica desde que ela existe", disse Lula a jornalistas após visita ao Salão Internacional do Automóvel. "Toda a vez que você perguntar ao papa sobre a questão do aborto, ele vai dizer exatamente o que disse o papa", completou.
O aborto teve destaque na disputa entre os candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). Os ataques de religiosos à petista por sua posição declarada antes da campanha, de ser favorável à descriminalização do aborto, foram apontados por analistas como um dos fatores que impediram sua eleição no primeiro turno.
Pressionada por grupos religiosos, Dilma assinou uma carta em que se compromete a, caso eleita, não propor mudanças na legislação atual sobre aborto e sobre outros temas relacionados à família e à adoração religiosa.
Questionado se os bispos brasileiros haviam interferido no processo eleitoral, indo além de seus limites, Lula discordou.
"Eu não acho que foi além. Cada um faz de acordo com a sua consciência. Esse é um país democrático, laico. Portanto, as pessoas se manifestam como quiserem. A liberdade é boa por isso", afirmou.
Indagado sobre o tom da campanha, Lula voltou a dizer que sua candidata, Dilma Rousseff (PT), sofreu com o preconceito.
"Eu fiquei triste porque a campanha teve um nível muito baixo. Eu acho que a candidata Dilma foi vítima de um preconceito e, mais uma vez, mostrado de forma arraigada contra a mulher brasileira. De qualquer forma, o Brasil vai dar mais uma demonstração de consolidação da democracia", afirmou.
O presidente visitou o Salão Internacional do Automóvel, em São Paulo, onde ficou por cerca de duas horas caminhando pelos estandes. Ele chegou a autografar o para-brisa de um carro da Volkswagen.
Lula voltou a repetir que o país vive um momento excepcional e que não há como retroceder e que há caminho totalmente sólido para que o Brasil se torne uma economia avançada.
O segundo turno da eleição presidencial entre Dilma, de quem Lula é o principal cabo eleitoral, e José Serra (PSDB) acontece no próximo domingo.
Ao final da entrevista coletiva, Lula fez um pedido aos repórteres. "Boa eleição. Todo mundo comparecendo para votar, hein. Se não tiver candidato, ainda estiver indefinido, vote na minha candidata", falou, rindo.
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