Campanhas de conscientização da população ajudam a diminuir mortes pela doença que assolou a ilha após terremoto e estação das chuvas
Roberto Simon, O Estado de S. Paulo
Médico da clínica contra cólera da ONG brasileira Viva Rio em Porto Príncipe, Jacques Renard fala baixo o que autoridades no Haiti ainda hesitam em confirmar oficialmente: a epidemia da doença, cuja cifra de mortos em breve atingirá a casa dos 4 mil, está praticamente controlada.
Atrás dele, duas jovens com sintomas de diarreia e fraqueza aguardam, isoladas, atendimento. Elas são moradoras de Bel Air, bairro miserável do centro de Porto Príncipe que veio abaixo com o terremoto, e foram à clínica improvisada pouco após apresentarem os primeiros sintomas da cólera.
Assustadas, esperam sentadas em um banco de madeira tratamento contra desidratação. Mais de 180 mil haitianos contraíram a bactéria, que teria sido introduzida no país cerca de três meses após o terremoto.
"Algumas semanas atrás, cuidávamos de dezenas de pacientes", afirma Renard, formado há três anos em Cuba. "Neste momento, são só elas duas."
A situação na ONG não parece ser uma exceção. Em novembro, o posto emergencial de combate à cólera de Waf Jeremie, uma das partes mais pobres da favela de Cité Soleil, registrou 280 casos de contaminação, em dezembro, o número caiu para 100.
No Hospital da Universidade do Estado do Haiti, principal centro médico do país (mais informações nesta página), onde são tratados os casos mais graves de cólera, o número de pacientes também caiu significativamente. Segundo o diretor do hospital, Alix Lasseque, em 10 de novembro, o número de pacientes era de 74, enquanto hoje é de 9.
No entanto, os dois médicos haitianos alertam que o fato de a epidemia estar praticamente controlada não significa o imediato fim da cólera no Haiti. A tendência, afirmam, é que o número de infectados diminua. Mas, sem condições básicas de saneamento e higiene, dificilmente a doença será erradicada no curto ou médio prazos.
Cautela. A Organização Mundial de Saúde (OMS) mantém cautela diante da redução no número de mortes. Fadela Chaib, porta-voz da OMS, afirma que o pico da epidemia só estará superado quando a taxa de mortalidade da doença atingir o patamar de 1% - atualmente está em 2,2%.
Especialistas atribuem a redução gradual no número de mortos pela cólera à grande campanha de conscientização montada no Haiti. De início, haitianos que contraíam a bactéria - sobretudo os mais pobres - recusavam-se a ir aos centros de tratamento, onde as vítimas do terremoto haviam sido tratadas. "Eles temiam hospitais, associavam esses lugares à morte", explica Lasseque.
Hoje é impossível andar nas ruas de Porto Príncipe sem se deparar com outdoors, cartazes e até mesmo grafites sobre medidas profiláticas contra a enfermidade.
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