Preço do litro está espantando consumidores de carros flex, que estão optando pela gasolina
Fernanda Manécolo, Araraquara.com
Foto: Lucas Tannuri
Os últimos aumentos no preço do litro do etanol (álcool) já derrubou pela metade a procura do combustível em postos de Araraquara, segundo estimativa de João Possi, diretor regional do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo (Sincopetro).
O último aumento, de 15%, ocorreu esta semana. De R$ 1,99 cobrado até a semana passada, o litro do combustível já está R$ 2,29 em alguns postos (veja quadro abaixo).
Possi cita, como exemplo, um posto que, no Carnaval, estava vendendo uma média de 6 mil litros de etanol ao dia e, hoje, não chega a faturar 3 mil litros diários. Ele vê como "normal" a reação rápida do consumidor ao aumento de preço, que culmina na migração para o abastecimento com gasolina pelos proprietários de veículos flex.
Para o consumidor, só compensa abastecer com álcool se o preço do litro for igual ou inferior a 70% do valor da gasolina, já que, segundo especialistas, a gasolina rende até 30% mais que o álcool. Para calcular, basta dividir o preço do litro do álcool pelo da gasolina. Se o resultado der acima de 0,70, o álcool perde a vantagem.
A má notícia, porém, é que os aumentos do álcool também têm impacto sobre o preço da gasolina, cujo litro está 4% mais caro nesta semana. Em Araraquara - de R$ 2,49 o litro, na semana passada, já é encontrada, hoje, a R$ 2,59 o litro. "O combustível tem álcool em sua fórmula, por isso seu preço também sobe na entressafra", diz Possi.
O diretor do Sincopetro explica que o preço do álcool está sofrendo aumentos constantes devido à entressafra da cana-de-açúcar. Sem a possibilidade de fabricar álcool, as usinas aumentam o preço do combustível e o reajuste segue até o topo da cadeia. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia (Cepea), em fevereiro, o etanol hidratado estava R$ 1,27 o litro, nas usinas sucroalcooleiras. Hoje, custa R$ 1,49 o litro.
Faltam ações
Sebastião Neto Ribeiro Guedes, economista e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), explica que o aumento do preço do álcool está ligado à lei de oferta e demanda, além de problemas estruturais, sendo que os dois primeiros poderiam ser prevenidos por ações tanto governamentais quanto das empresas do setor.
Sobre a oferta e a demanda, o professor explica que desde 2008, quando houve a crise econômica mundial, as usinas não investiram maciçamente na matéria prima e não houve aumentos quantitativos relevantes de produção. "Em contrapartida, a venda de veículos flex, que podem utilizar tanto álcool como gasolina, estão batendo recorde mensalmente", diz ele.
Os problemas estruturais estão relacionados à falta de uma estocagem eficaz do combustível. Para ele, nem usinas nem Governo estão se movimentando para manter um estoque maior durante o período de entressafra, por isso ocorre o desabastecimento. "Daí o aumento do preço", diz.
Conjunturais são os problemas causados pelo clima. Guedes lembra que, no ano passado, houve uma estiagem prolongada, que comprometeu o crescimento da cana, o que, teoricamente, causaria um atraso no início da safra deste ano. Por outro lado, o atual tempo chuvoso também prejudica o início da safra, que pode começar em abril. "Mas se estiver chovendo muito, é possível que o início da moagem ocorra apenas em maio", prevê.
Preços devem começar a baixar só em maio
João Possi, diretor regional, presidente do Sincopetro, prevê que o preço do etanol baixará só depois de maio, quando a safra de cana-de-açúcar já estiver em um "ritmo bom".
A União das Indústrias de Cana-de-Açúcar confirma que, até lá, os preços devem continuar altos. "Os preços só vão voltar com a combinação de redução da demanda e oferta da nova safra", diz Antonio de Pádua Rodrigues, diretor da entidade.
A partir da segunda quinzena de abril, segundo Rodrigues, cerca de 50% a 60% das usinas estarão em produção.
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