Chefe militar de Gbagbo confirmou que seus soldados pararam de combater
Jamil Chade, O Estado de S. Paulo
Diplomatas da ONU e da França informaram ontem que o presidente de facto da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, pediu um cessar-fogo. Segundo os franceses, ele está em um bunker construído sob sua residência oficial. O chefe militar de Gbagbo, Philippe Mangou, confirmou que seus soldados pararam de combater. As tropas do presidente eleito, Alassane Ouattara, já controlam Abidjã, maior cidade do país.
"A guerra acabou", disse à TV France24 Alcide Djedje, chanceler de Gbagbo, que foi à embaixada francesa negociar a rendição. "Pela primeira vez, Gbagbo deu sinais de que aceitará a vontade do povo e os resultados da eleição", afirmou Choi Young-jin, enviado da ONU à Costa do Marfim, em referência à votação de novembro - Ouattara foi reconhecido como vencedor pela comunidade internacional, mas Gbagbo nunca aceitou o resultado.
Em Paris, o ministro das Relações Exteriores da França, Alain Juppé, garantiu que Gbagbo estava a ponto de se render. Segundo Juppé, a única saída para o líder marfinense é deixar o poder e reconhecer formalmente Ouattara como vencedor das eleições.
Horas depois, no entanto, Gbagbo adotou um tom desafiador em entrevista por telefone à TV francesa LCI. Ele confirmou que solicitou o cessar-fogo, mas negou que estivesse a ponto de se render e reiterou que é o vencedor da votação.
"O Exército pediu a suspensão das hostilidades e está discutindo o cessar-fogo, mas, em nível político, não foi tomada nenhuma decisão", disse Gbagbo. "Venci as eleições e não negocio a minha saída."
De acordo com testemunhas, os combates em Abidjã foram interrompidos às 9h30 (6h30, hora de Brasília) e soldados leais a Gbagbo foram vistos abandonando suas posições. Segundo Mangou, o presidente de facto estaria apenas esperando que a ONU desse garantias de segurança para ele, sua família e seus aliados.
Na semana passada, a Cruz Vermelha denunciou o massacre de 800 pessoas perpetrado por partidários de Ouattara no interior do pais.
Desde que a guerra civil começou na Costa do Marfim, pelo menos 1 milhão de pessoas foram obrigadas a deixar suas casas, das quais cerca de 400 mil cruzaram as fronteiras do país.
Após quatro meses de intensos combates, o impasse entre as duas forças rivais começou ser rompido na segunda-feira, quando a ONU e a França decidiram atacar posições de Gbagbo em Abidjã, abrindo caminho para o avanço dos soldados de Ouattara.
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