Retorno de líder venezuelano foi teatro político clássico para eliminar pessimismo de partidários e lutas internas de poder
Simon Romero, The NewYork Times
Foto: AFP
Ele está de volta. Essas foram as palavras proferidas em surpresa por muitos venezuelanos na manhã de segunda-feira quando acordaram com a televisão estatal mostrando o presidente Hugo Chávez fazendo um inesperado, mas bem coreografado, retorno depois de quase um mês afastado em que foi submetido a uma cirurgia para a remoção de um câncer em Cuba.
"Estou muito feliz por estar em casa novamente", disse Chávez, abraçando seu irmão, Adán Chávez, e o vice-presidente Elías Jaua, depois de pisar no asfalto do aeroporto Maiquetía, perto de Caracas, na segunda pela manhã.
O presidente, em um contraste marcante em relação ao seu discurso sombrio na semana passada anunciando sua batalha contra o câncer, parecia entusiasmado. Ele usou música, relatou aos espectadores o conto de sua missão à Guatemala quando era um jovem oficial do Exército e recitou alguns versos políticos.
O retorno de Chávez, de 56 anos, no meio da madrugada foi teatro político clássico de um líder que tem irritado seus críticos locais continuamente durante seus 12 anos no poder. Apesar de seu retorno, o mistério ainda cerca o tema de sua sensível saúde, porque ele não anunciou contra qual tipo de câncer está lutando ou de qual parte do seu corpo um tumor canceroso foi removido em Cuba.
Na sexta-feira, Jaua, o vice-presidente, chegou a sinalizar a possibilidade de que Chávez poderia continuar a gerir os assuntos como chefe de Estado no estrangeiro por até seis meses, se necessário, fortalecendo os adversários que viram uma ausência prolongada como uma oportunidade para enfraquecer o poder de Chávez sobre a nação.
Mas mesmo enquanto a divulgação da vulnerabilidade de Chávez obcecava o país nos últimos dias, lá estava ele novamente em solo venezuelano, cautelosamente descendo a escada de seu Airbus usando um moletom e retomando as rédeas do debate político.
Chávez conseguiu reunir as forças necessárias para falar a seus apoiadores na segunda à tarde do balcão do palácio presidencial. Seu uniforme verde, feito sob medida para um homem mais carnudo, pendia frouxamente, revelando a perda de peso nas últimas semanas.
Ainda assim, Chávez fez um ardente discurso de 30 minutos, segurando uma pequena cruz e agradecendo os "espíritos da savana" que o ajudaram a suportar o que descreveu como seis horas de cirurgia no dia 20 de junho em Cuba para remoção do seu tumor.
"Nós vamos ganhar essa batalha também", disse ele, referindo-se à sua luta contra câncer. O retorno de Chávez na segunda-feira tem importância simbólica porque celebrações do Dia da Independência estão programadas para esta terça-feira, e Chávez tem enfatizado uma ideologia de Estado que mistura nacionalismo, projetos de bem-estar de inspiração socialista e reverência a sua personalidade dominadora.
"O retorno de Chávez é o melhor presente que a Venezuela poderia ter recebido no 200º aniversário de sua independência", disse Gloria Torres, 50, que havia organizado uma missa católica no fim de semana em nome do presidente.
Outros no país polarizado, no entanto, não ficaram tão felizes. "Vou comprar alguns antidepressivos", disse José Manuel, 52, um empresário que não quis dar seu sobrenome.
Fernando Ochoa Antich, um antigo ministro da Defesa, disse que o retorno de Chávez para as celebrações da independência envolve a imagem "mágica" necessária do "caudilho", ou o homem forte da América Latina. A personalidade política do presidente, segundo Ochoa Antich, "é fundamentalmente baseada em ele ser um tipo de ser mágico”.
"O caudilho precisa parecer invencível, o que lhe dá a força popular fundamental que ajudou Chávez a preservar o poder ao longo de todos esses anos", disse Ochoa Antich.
A mídia estatal cobriu o retorno de Chávez com adulação. A agência de notícias estatal anunciou sua volta em uma manchete que dizia apenas: "Ele voltou, ele voltou, ele voltou!"
Mas alguns venezuelanos ponderaram a estratégia por trás do retorno de Chávez. "Acho que esse foi um evento totalmente previsível", disse Luis Vicente Leon, analista político e pesquisador. "Ele precisava imediatamente eliminar o pessimismo entre os seus seguidores e evitar lutas internas pelo poder."
Ainda assim, Leon disse: "Simplesmente estar aqui pode criar uma imagem de luta para superar sua doença, mas não resolve o problema da doença em si."
Falando à televisão estatal em entrevista por telefone, Chávez se concentrou em outras coisas. Ele chegou a descrever o seu café da manhã de segunda-feira, na Venezuela, que incluiu uma porção de carne bovina. "Estou devorando tudo", disse.
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