Regional | IBGE contempla uniões homoafetivas pela primeira vez - Blog Marcel Rofeal

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sábado, 16 de julho de 2011

Regional | IBGE contempla uniões homoafetivas pela primeira vez

Em Araraquara, 85 casais declararam ao Censo 2010 a constituição de família com companheiros do mesmo sexo

Fernando Martins, Araraquara.com
 
Dados do Censo 2010 feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o Brasil registra 60 mil casais homossexuais em união estável. A pesquisa, que pela primeira vez deu ao entrevistado a oportunidade de declarar se vivia em um relacionamento homoafetivo, mostrou que São Paulo é o estado com maior número de casais formados por pessoas do mesmo sexo — 16,8 mil. Na Região, São Carlos lidera o ranking, com 86 registros, seguida por Araraquara, com 85; Américo Brasiliense, com 14; e Matão, com 10. A cidade de São Paulo tem o maior número de registros, com 7,5 mil casais nesta condição.
 
Os números não representam crescimento ou queda nas estatísticas de relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo — até porque o levantamento é inédito —, mas o reconhecimento social da existência dessa modalidade de união, além de refletirem o novo olhar das instituições sobre as transformações da sociedade.
 
Uma das pessoas a declarar-se em união homoafetiva em Araraquara foi Helena Paix, jornalista, escritora e professora, que mora na cidade há dois anos e meio. Para ela, os números do Censo são apenas o retrato do que já deveria ser mostrado. "Isso sequer era perguntado nas pesquisas antigas. Os casais não tinham espaço nenhum para dizer que constituíam família", diz.
 
A jornalista lamenta não serpossível comparar dados sobre o provável crescimento ou a diminuição de casais em união homoafetiva. "Não temos parâmetros. Só a partir de agora fazemos parte das estatísticas de um órgão oficial", conta.
 
Ainda assim, de acordo com Helena, avanços como a inclusão no Censo e a validade da união estável perante a Justiça, desde o reconhecimento do Supremo Tribunal Federal (STF) há pouco mais de dois meses, são apenas a "ponta do iceberg". "Ainda sofremos com muita resistência, preconceitos. Precisamos viver cercados de cuidados", revela.
 
Para ela, as pessoas ainda enxergam com "maus olhos"casais homossexuais. "E não é impossível tentarem te prejudicar na vida pessoal, familiar ou no trabalho", diz. 
 
Preconceito ainda existe, mas é possível andar com ‘tranquilidade’ 
 
Apesar de viver em uma cidade do Interior, a jornalista Helena Paix diz que o pior caso de homofobia que sofreu ocorreu em São Paulo, a quinta maior cidade do mundo. "E isso foi em plena Avenida Paulista, coração da cidade", diz, sem revelar mais detalhes.
 
Por Araraquara ela diz ser possível andar com "certa tranquilidade". Alguns olhares velados insistem em manter acesa a chama do preconceito. "Vivemos em uma sociedade em que o homem é superexaltado. Além disso, há pressões religiosas da Igreja Católica e da comunidade evangélica. Mas vemos que os avanços acontecem. Cada passo é uma vitória conseguida em cima de mortes e preconceitos", pontua.
 
Ela faz questão de manter sua vida pessoal bastante reservada. "Afinal, não é porque sou homossexual que devo sair gritando a todos. É desnecessário. Se fosse heterossexual agiria da mesma forma", diz.
 
Helena mantém o blog Sapatilhando (http://sapatilhando. blogspot.com), que trata do tema homossexualidade e outros assuntos deste universo. "Lá podemos dialogar e criar uma rede. Ainda reúno material e, em breve, lançarei um livro sobre o assunto", diz. 
 
‘Instituições estão acompanhando avanços’ 
 
O professor do Departamento de Sociologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), José dos Reis Santos Filho, também enxerga avanço nos números divulgados pelo Censo 2010 a respeito das uniões homoafetivas. "Isso é coerente com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), por exemplo", diz.
 
Para Reis, as instituições acompanham os costumes que a sociedade vive. "E, com isso, as pessoas se estimulam a assumir a sua condição e acabam por enfraquecer o preconceito."
 
A resistência, por sua vez, ainda existe em segmentos conservadores da sociedade. Ainda assim, o professor vê um futuro promissor. "Vem melhorando essa resistência, que é natural, como foi há 40 anos, por exemplo, quando o movimento feminista começou a tomar força para garantir seus direitos. As pessoas também olhavam desconfiadas para isso", conclui.

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