Marcel Rofeal*
Ainda tenho uma esperança, em vão, de que tudo isso não passe de um pesadelo. De que eu possa acordar a qualquer momento e perceber que tudo foi, apenas, um sonho ruim. Como eu queria poder despertar e ver que, na realidade, tia Hilda ainda está lá, em casa, cuidando do tio Paulo, da Fer, do Jú e da vó. Ah, meu Deus, que bom seria se nossa luta ainda não tivesse acabado, ou, quem sabe, jamais tivesse começado. Que bom seria se quem nós amamos nunca se fosse, nunca nos deixasse.
Oito meses se passaram desde a manhã daquele domingo, 31 de julho. Um mal-estar, a internação, o diagnóstico e a bomba: um câncer no pâncreas e apenas quatro meses de vida. Aquilo não poderia estar acontecendo! Mas o pior estava por vir e no dia 3 de agosto recebemos a notícia da morte de minha avó. Outra vez, Senhor? Repetir-se-ia o que ocorreu em 1995 (quando, em seis meses, pai e filha – meu avô e minha tia – se foram)?
Tudo apontava para isso, mas tia Hilda passou a lutar pela vida com garra e muita fé. Nunca perdeu as esperanças e, tampouco, o bom-humor. Em todas as situações, fossem boas ou ruins, encontrava motivos para estampar um sorriso no rosto. Nunca se deixou abalar. Dezenas de idas e vindas para São Carlos e Jaú, sempre com muita esperança na recuperação. Superou as expectativas dos médicos e venceu o prazo de quatro meses.
Sempre amparada pelo marido, mais que um companheiro, um anjo da guarda. Contou com as orações de familiares, amigos, conhecidos e desconhecidos, em todas as religiões, por sua recuperação. Infelizmente o quadro vinha se agravando. Tornou-se irreversível com a contaminação do fígado e paralização da vesícula biliar. A luz da nossa estrela Hilda ia se enfraquecendo e nossa luta estava chegando ao fim.
Um sonho, porém, deu-a mais esperanças nos últimos dias. Em um encontro com Nossa Senhora de Fátima, foi proclamado: “Hilda, você irá sarar. Você não irá sentir mais dor. Venha comigo, me siga”; e lá se foi, caminhando frente à minha tia, Nossa Senhora de Fátima, jogando flores pelo caminho que iam sendo recolhidas e, ao final do trajeto, formaram um lindo buquê. E assim se fez! Na véspera da Páscoa do Senhor, às 14 horas de sábado (7), a dor cessou.
Foram 46 anos de humildade, simplicidade e alegria. Dezessete anos de casamento bem sucedido, feliz e digno, marcado pela fidelidade de ambos e pelos frutos desse amor: Fernanda e Juninho. Quinze anos de dedicação especial à sua mãe, a quem deu mais atenção do que à própria saúde, e acabou abdicando de sua própria vida. Resta-nos o exemplo de pessoa, de mulher, de mãe, de filha, de irmã, de tia etc. Uma mulher que soube transformar a dor, o sofrimento, em alegria, em bom-humor.
E os momentos mais difíceis certamente seriam piores sem o apoio e dedicação de algumas pessoas, em especial os amigos do Grupo de Voluntários de Combate ao Câncer (GVCC), os companheiros do Auto Posto Beira Rio, os amigos e familiares de igrejas evangélicas, nossa paróquia e nosso pároco, e às Famílias Piccolo e Ferreira de Almeida. Aqui, aproveito para tornar público os meus sinceros agradecimentos a todos, em nome de nossa família.
Que Deus, em sua infinita misericórdia, abençoe a cada um que, de alguma forma, nos deu apoio nesse período sofrido. Tia, muito obrigado por ter sido essa pessoa maravilhosa. Tenho fé que, um dia, nos encontraremos novamente. Descanse em paz!
*Marcel Rodrigues Ferreira de Almeida é colaborador voluntário na Rádio BJ FM e no jornal “Correio D’Oeste”, redator do jornal “Agosto” e responsável pelo “Blog Marcel Rofeal – BMR”.
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