Prefeito de Ribeirão Bonito rompeu com aliados, se
isolou politicamente e adotou uma postura autoritária e ditatorial na
administração
Marcel Rofeal, da Redação
Fotos: Marcel Rofeal/BMR
Ares nebulosos e
dramáticos pairam sobre a Prefeitura de Ribeirão Bonito. Na última segunda-feira
(10), o prefeito Francisco José Campaner (PSDB) chegou ao centésimo dia de
mandato sem o que apresentar de positivo. Isolado politicamente e sem ouvir
auxiliares, Chiquinho é alvo de investigações no Ministério Público Estadual e
no Ministério Público do Trabalho, e de quatro denúncias no Legislativo, onde
duas Comissões Especiais de Inquérito (CEI) foram abertas.
Eleito no dia 2 de
outubro com um discurso de mudanças, Chiquinho Campaner chegou ao poder com
3.132 votos em uma coligação que reuniu cinco legendas partidárias e conquistou
oito das nove vagas no Legislativo. “Cada um de vocês é responsável por isso,
eu sou apenas um representante seus e vou ser o instrumento dessa mudança que
Ribeirão Bonito precisa”, afirmou em seu primeiro discurso após a apuração dos
votos e proclamação dos resultados das urnas.
Considerado um homem
simples, lutador por seus ideais e que acredita no que sonha e almeja, é ainda
teimoso e de opinião forte. Dinâmico, assumiu a responsabilidade empregada pelo
eleitorado já no dia seguinte à vitória e passou a promover reuniões diárias
para discutir a transição de governo, projetos e ações para os primeiros cem
dias da nova administração. Escalou uma equipe de voluntários para um
diagnóstico da situação do Município e definir as prioridades do governo.
O novo tempo anunciado
por Chiquinho é marcado por incertezas, deslealdade, mentiras e turbulência. Na
posse, em 1° de janeiro, o novo prefeito reafirmou seu intuito de não
decepcionar a população, mas confirmou a necessidade de adotar medidas amargas.
Pediu compreensão à população e conclamou a todos para se unirem ao que chamou
de Grupo Ribeirão Bonito, no sentido de ajudar a administração e resgatar o
orgulho e a esperança do povo ribeirão-bonitense.
Já no dia 2 de janeiro,
se reuniu com funcionários públicos e membros de sua equipe na abertura dos
trabalhos, pediu espírito de colaboração e trabalho em equipe. Chegou ao
Gabinete dizendo que não haveria perseguições ou opressão, mas o Poder
apresentou uma nova face de Chiquinho Campaner. Destemperado, impaciente,
autoritário, dissimulado. Agora, é Francisco José Campaner quem gerencia a cidade,
sob as rédeas de Edmo Gonçalo Marchetti, o prefeito de fato.
Formado em Direito e assessorado
por outros quatro advogados, o prefeito eleito praticou Improbidade Administrativa
em seu primeiro ato oficial e fechou-se aos conselhos de profissionais e especialistas.
A decisão de Campaner em não seguir orientações dos assessores motivou o
primeiro desentendimento com o vice-prefeito Luiz Arnaldo de Oliveira Lucato
(DEM). A briga, que ocorreu a portas fechadas no Gabinete, pode ser ouvida em
todo o Paço Municipal e nas imediações.
Aliada à teimosia do
chefe do Executivo, as articulações de Marchetti na sala ao lado tem agravado o
isolamento político de Campaner. O braço direito de Chiquinho criou uma série
de intrigas que levaram a exonerações de diversos assessores e ao afastamento
de muitos colaboradores da administração. As interferências no andamento dos
serviços públicos e desacatos ao próprio funcionalismo são outros fatores que
têm gerado prejuízos à sustentação do governo.
No Legislativo, a
relação com o prefeito também foi estremecida devido à inconsequência de
Chiquinho e seu braço direito. As declarações de que Campaner e seu assessor
teriam reunido provas contra os parlamentares em um dossiê caso a Câmara
acolhesse denúncias e decidisse abrir uma investigação contra o chefe do
Executivo deixaram vereadores indignados. Também a relação com o Judiciário não
está nem perto de ser considerada institucionalmente adequada.
Investigado em quatro
inquéritos instaurados no Ministério Público Estadual e no Ministério Público
do Trabalho, Chiquinho Campaner voltou a demonstrar desequilíbrio ao sair do
Paço Municipal, atravessar a Praça dos Três Poderes e afrontar a promotora Laís
Fernanda Silva. Também o relacionamento com a imprensa deixou de existir. O chefe
do Executivo não concede mais entrevistas, vira as costas para jornalistas e
chegou a gritar e desligar o telefone na cara de uma profissional.
As mudanças no discurso
de Chiquinho
Chiquinho assumiu a
Prefeitura com aproximadamente R$ 2 milhões em caixa para investimentos em
Educação, mas manteve sua decisão de reduzir em 35% as despesas e anunciou
cortes na merenda, não forneceu uniformes escolares, rompeu com o sistema
apostilado de ensino, suspendeu o auxílio a estudantes universitários e o custeio
do Programa Bolsa Faculdade. Todas as áreas e contratos com fornecedores foram
renegociados e sofreram redução de 35%.
Na Saúde, o chefe do
Executivo renegociou o Contrato de Gestão com a Santa Casa de Misericórdia e reduziu
o aporte mensal à entidade para R$ 296 mil. No início do ano, os médicos também
conversaram com Chiquinho e concordaram com a redução nos seus salários em 35%
por até três meses. Ambos os compromissos firmados por Campaner não estão sendo
cumpridos. Os repasses à Santa Casa e, consequentemente, os vencimentos dos
profissionais estão em atraso.
“A prioridade número um
do meu governo vai ser solucionar a falta de água do Jardim Heliana”, dizia
Chiquinho antes da posse. O prefeito anunciava que daria prioridade para a
folha de pagamentos, mas reservaria os recursos oriundos de tributos e
transferências de impostos para esse fim. Já na terceira semana de gestão seria
possível sanar o problema em definitivo com a perfuração de poços profundos, um
investimento estimado em R$ 400 mil, mas Campaner não quis.
“O homem comum pode
falar do problema, conviver com o problema, mas o homem público tem que buscar
a solução do problema”, disse Chiquinho em sua primeira entrevista após a
eleição. Já depois de assumir, o prefeito parece ter mudado o pensamento. Ao
ordenar demissões em massa na Saúde, gerando um passivo superior a R$ 700 mil
aos cofres públicos, Campaner criou um novo problema ao atrasar os pagamentos e
aguardar a soma das multas.
Também na Saúde, ao
promover o fechamento de duas unidades do Programa de Saúde da Família (PSF), a
Prefeitura deixou de receber importantes repasses financeiros do Governo
Federal. Mais um problema criado por Chiquinho foi o agravamento da situação de
abandono das vias públicas. Primeiro o prefeito ordenou cortes no asfalto,
visando ao início da operação tapa-buracos, para depois pensar em adquirir a
massa asfáltica, gerando um embate que pode chegar ao Judiciário.
“Uma mudança é o que
povo anseia, o povo clama de todos nós. Cada um de nós tem uma parcela dessa
responsabilidade”, disse Chiquinho em seu discurso de posse. Ao longo dos cem
primeiros dias de sua administração, Campaner mostrou mais do mesmo. Convidou
quatro assessores de confiança das últimas três administrações a retornarem aos
seus postos, mas manteve “vícios” de antecessores que havia combatido na
campanha e acabou conquistando eleitores.
“A Prefeitura anda
sozinha, o que prejudica às vezes o funcionamento da administração é o excesso
da presença de político, isso incomoda, isso dificulta, porque o político pensa
que ele é imprescindível e não o é. Ele cumprindo com sua obrigação, as coisas
fluem melhor”, afirmou o então prefeito eleito. Ao tomar posse, Chiquinho
centralizou toda a administração e dificilmente deixa o Paço para cumprir seu
papel de prefeito. Hoje, Campaner atua como gerente de oficinas.
“Senti que o grupo
tinha um projeto para Ribeirão Bonito, senti que ali diziam a verdade e deixei
claro que quando há um grupo é preciso também compor, não seria minha
imposição”, revelou em entrevista antes da posse. No entanto, ao assumir o
mandato, Chiquinho rompeu seu compromisso, esqueceu o grupo e deixou de ouvir
orientações. Passou a impor suas decisões, seu pensamento, seus erros, suas
mentiras e a afastar quem apresentasse posicionamentos divergentes aos seus.
Vereador por três
mandatos e presidente da Câmara de Ribeirão Bonito por duas oportunidades, o
atual prefeito Francisco José Campaner também teve uma trajetória conturbada no
Legislativo. Sua primeira passagem pela presidência da Casa, em 1983, foi
tumultuada e ele renunciou em março de 1984 para evitar uma provável cassação e
preservar seu primeiro mandato como parlamentar. Chiquinho era alvo de
investigações e já enfrentava graves acusações por possíveis irregularidades.