Outros países árabes enfrentam onda de revoltas
Agências de Notícias
Após a confirmação de dois mortos e 40 feridos durante confrontos na Líbia, em meio à onda de revoltas na região, os Estados Unidos pediram que o regime do ditador líbio, Muammar Gaddafi, há 42 anos no poder, assim como os de outros países atingidos por protestos, atendam às demandas sociais.
"Os países da região têm o mesmo tipo de objetivos em termos demográficos, aspirações do povo e necessidade de reformas", disse em coletiva de imprensa o porta-voz do Departamento de Estado americano, Philip J. Crowley.
"Estimulamos estes países a tomar ações específicas que respondam às aspirações, necessidades e esperanças do povo. A Líbia certamente está nessa categoria", completou o porta-voz.
Em 2008, Washington enviou um embaixador à Líbia pela primeira vez desde 1972, depois que ambos os governos normalizaram suas relações bilaterais após a compensação econômica líbia às vítimas americanas de um ataque terrorista ocorrido na década de 1980.
REVOLTA SE ESPALHA
As declarações dos EUA chegam no mesmo dia em que a onda de revoltas se espalhou por diversos países árabes, como Bahrein, Iêmen e Iraque, além do Irã --nação que embora não pertença ao grupo árabe também sofreu reflexos da crise na região.
Mais cedo, no Egito o governo indicou que 365 morreram e 5.500 ficaram feridos durante os 18 dias de protestos no país.
Solidificando a crise na região, nesta quarta-feira as manifestações atingiram também a Líbia, país sob o governo ditatorial de Muammar Gaddafi, no poder há 42 anos.
Os manifestantes cantavam "Muammar é o inimigo de Deus" e "Abaixo, abaixo à corrupção e ao corrupto". Armados, policiais e partidários do governo rapidamente cercaram os manifestantes e atiraram balas de borracha, segundo Ashur Shamis, um ativista líbio de oposição em Londres.
Os protestos de terça e quarta aparentemente foram provocados pela falha das conversas entre o governo e um comitê representando famílias de centenas de prisioneiros mortos quando forças de segurança abriram fogo durante protestos, em 1996, em Abu Salim, a mais importante prisão da Líbia. O governo começou a pagar compensações às famílias, mas o comitê pede o julgamento dos responsáveis.
EGITO
O Ministério da Saúde do Egito informou nesta quarta-feira que 365 pessoas foram mortas durante os 18 dias de protestos, iniciados em 25 de janeiro, que terminaram na última sexta-feira (11) com a renúncia do ditador do país, Hosni Mubarak, que estava há 30 anos no poder.
Trata-se da primeira estatística dada pelo governo sobre as revoltas populares, apesar de o ministro da Saúde, Ahmed Sameh Farid, afirmar que é apenas uma contagem preliminar sobre a morte de civis --não estão incluídos policiais ou prisioneiros.
Ainda hoje as Forças Armadas pediram que os egípcios retornem ao trabalho, enquanto uma comissão prossegue estudando as emendas à Constituição.
IÊMEN
Em Sanaa, milhares de estudantes e advogados gritavam "Depois de Mubarak, Ali", em referência o presidente iemenita Ali Abdullah Saleh, que está no poder há 32 anos.
Manifestações contra o governo se espalharam pelo Iêmen nesta quarta-feira, com centenas de pessoas saindo às ruas de Sanaa, Aden e Taiz. Na capital, ao menos 800 opositores marcharam apesar dos esforços da polícia para conter os protestos.
Em Aden, a principal cidade do sul do Iêmen, um manifestante morreu e outros três ficaram feridos durante enfrentamentos entre as forças segurança e os centenas de manifestantes antigovernamentais, de acordo com fontes hospitalares.
BAHREIN
Em Bahrein, apesar da proibição, milhares de pessoas voltaram a protestar contra o governo durante o funeral em Manama de um estudante morto na terça-feira durante um protesto, no terceiro dia de manifestações no país.
Mais de 2.000 pessoas participaram do cortejo de Fadel Salman Matruk, baleado durante um protesto, em frente ao hospital onde era velado outro manifestante xiita morto.
O ministro do Interior, xeque Rashed bin Abdullah Al Khalifa, apresentou nesta quarta-feira desculpas e anunciou a prisão de dois policiais. Mas o xeque Ali Salman, líder da oposição xiita, não se deu por satisfeito com esses gestos e pediu uma "monarquia constitucional"com um primeiro-ministro "eleito pelo povo".
IRAQUE
Fontes policiais na cidade de Kut --palco de violentos protestos por melhorias de serviços do governo no Iraque-- indicaram que ao menos duas pessoas morreram e mais de 40 ficaram feridas quando cerca de 2.000 manifestantes invadiram prédios da administração regional.
Além dos protestos inspirados nas revoltas da Tunísia e do Egito, a quarta-feira registrou atentados em ao menos três diferentes cidades do Iraque. Em Mussayab, uma bomba foi detonadas próximo a uma delegacia de polícia, em Mossul, um funcionário do governo foi morto por atiradores e em Tuz Khurmato outra bomba foi plantada num carro da polícia.
Embora as tropas de combate dos Estados Unidos tenham deixado o país ainda na metade do ano passado, a onda de violência no Iraque se mantém e os soldados americanos que ficaram como uma força de transição já atuaram de forma combativa por diversas vezes.
IRÃ
Dois líderes da oposição iraniana, Mir Hossein Mousavi e Mehdi Karoubi, pediram ao governo do país nesta quarta-feira que "escute o povo" em uma carta publicada em vários sites opositores. A divulgação do texto ocorre um dia depois de o presidente do país, Mahmoud Ahmadinejad, ter afirmado que a revolta da oposição do país "vai fracassar", e de parlamentares terem pedido a morte dos dois.
O regime iraniano convocou um dia "de ódio e ira" para a sexta-feira contra as provocações dos opositores Mir Hussein Mousavi e Mehdi Karubi, num momento em que se multiplicam os chamados para que estes sejam castigados pelos protestos.
ARGÉLIA
Mais de mil estudantes concentraram-se nesta quarta-feira diante do Ministério da Educação Superior em Argel em um protesto pacífico contra um decreto presidencial que, segundo eles, desvaloriza seus estudos e títulos acadêmicos.
Já a Coordenação Nacional pela Democracia e Mudança, grupo integrado por várias organizações da sociedade civil e partidos políticos da Argélia, convocou uma nova manifestação para o próximo sábado (19) em Argel, em reivindicação à democratização do regime e pedindo a queda do presidente Abdelaziz Bouteflika, há 12 anos no poder.
O chamado ocorreu após grandes protestos no sábado (12), quando milhares foram às ruas, embora tenham sido fortemente reprimidos por mais de 30.000 policiais que prenderam mais de 400 ativistas.
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